quinta-feira, outubro 27, 2005

1º MÊS EM DÍLI (27 de Set.-27 de Out.)















Em jeito de balanço:

"O MENINO GRANDE

Também eu, também eu,
joguei às escondidas, fiz baloiços,
tive bolas, berlindes, papagaios,
automóveis de corda, cavalinhos...

Depois cresci,
tornei-me do tamanho que hoje tenho;
os brinquedos perdi-os, os meus bibes deixaram
de servir-me.
Mas nem tudo se foi:
ficou-me
dos tempos de menino, esta alegria ingénua
perante as coisas novas
e esta vontade de brincar".

O meu assombro vai para a naturalidade com que assimilei este novo mundo! Tão natural que se torna estranho! E estranheza não é o “novo mundo” em si, mas esta sensação que trago comigo, de que aqui pertenço!

Sinto vivas, as forças que jogam dentro de mim.

terça-feira, outubro 25, 2005


18 de Outubro de 2005-10-25

ONDE ESTÁ A EUROPA?

A percepção de que estou “deste lado do Mundo” de repente aumenta, quando, dentro de uma sala de aula, no interior de Timor, me deparo com este mapa! Sempre tive o cuidado de alertar os meus alunos para a visão egocêntrica da representação do mundo! Digo-lhes:” A Europa não é o centro do mundo – juro que me refiro só à construção dos mapas ;) ...se esta aula estivesse a decorrer no Sudeste Asiático, teríamos outra representação; a Europa estaria “num canto” e no centro do mapa teríamos a Malásia, o Japão, a Austrália.... Timor!!!!
Queridos alunos, ao que parece o “centro do mundo”, no que à representação da Terra se refere, está onde nós estivermos! Agora é Timor o centro do “meu mundo”. Quando voltar prometo centrar-me na Europa, outra vez!

sábado, outubro 22, 2005

TIMOR-LESTE;TIMOR LOROSA'E

Loro = Sol;
Sa’e = subir, elevar-se, ascender;
Loro Sa’e =Nascer do Sol;
Lorosa’e = Nascente, Oriente;
Timor do Oriente = TIMOR-LESTE;

Terra onde, para Camões, “O Sol nasce primeiro” e onde a lenda do crocodilo é a primeira identificação a fazer.

A lenda e o mapa da terra, com forma de crocodilo:

Em tempos que já lá vão, vivia na ilha Celebes um crocodilo muito velho, tão velho que não conseguia caçar os peixes do rio.Certo dia, morto de fome, decidiu aventurar-se pelas margens em busca de algum porco distraído que lhe servisse de refeição. Andou, andou, até cair exausto e desesperado, sem forças para regressar à água. Quem lhe valeu foi um rapaz simpático e robusto que teve pena dele e o arrastou pela cauda .Em paga pelo serviço prestado, o crocodilo ofereceu-se para o transportar às costas sempre que ele quisesse navegar. Foi assim que começaram a viajar juntos. Mas, apesar da amizade que sentia pelo rapaz, quando o crocodilo teve novamente fome, lembrou-se de o comer. Antes, porém, quis ouvir a opinião dos outros animais e todos se mostraram indignadíssimos. Devorar quem o salvara? Que terrível ingratidão! Envergonhado e cheio de remorsos, o crocodilo resolveu partir para longe e recomeçar a sua vida onde ninguém o conhecesse. Como o rapaz era o único amigo que tinha, chamou-o e disse-lhe assim: -Vem comigo à procura de um disco de ouro, que flutua nas ondas perto do sítio onde nasce o sol. Quando o encontrarmos seremos felizes. Mais uma vez viajaram juntos, agora sulcando o mar que parecia não ter fim mas, a certa altura, o crocodilo percebeu que não podia continuar. Exausto, deteve-se na intenção de descansar apenas um instante mas, logo que parou, o corpo transformou-se numa ilha maravilhosa! O rapaz, que se viu homem feito de um momento para o outro, verificou, encantado, que trazia ao peito o disco de ouro com que o crocodilo sonhara. Percorreu então as praias, as colinas e as montanhas e compreendeu que aquela era a ilha dos seus sonhos. Instalou-se e escolheu o nome para a ilha. Chamou-lhe Timor, que­ significa "Oriente". (Obrigada Pirizinho)


sexta-feira, outubro 21, 2005

INAUGURACAO ESCOLA HATO-BUILIKO



17 de Outubro de 2005

Hato –Builiko, fica no Distrito de Ainaro, a sul de Díli. 4 horas de viagem... e lá estamos nós, em mais um sítio recôndito, com muitos quilómetros de estrada em percorridos...mais uma aldeia que nos espera, em festa! Há cânticos, poemas, música em português; estes meninos são ainda mais pobres que os meninos de Cairui. Não estão vestidos com os seus trajes tradicionais e têm um aspecto menos cuidado... o Sr. Superintendente num discurso arrepiante de simplicidade, recita Fernando Pessoa “vale sempre a pena quando a alma não e pequena” – esta frase, para nós, uma frase tão batida como “hoje é o primeiro dia do resto da tua vida”, assume neste contexto contornos difíceis de vos descrever. Quando tudo falta, a essência das coisas impõe-se!


quinta-feira, outubro 20, 2005

DILI - LIQUICA BY BIKE

Domingo, 16 de Outubro de 2005
1º GRANDE PASSEIO DE BICICLETA

Mais ou menos 60Km, numa estrada serpenteada pela presença constante do mar; mais uma vez e sempre, a hesitação entre o deslumbramento pela beleza natural e o constrangimento pelas carências deste povo.

(Segundo o PNUD de 2002 - elaborado especialmente para Timor- cerca de 41 % da população vivia com cerca de 50 cêntimos por dia! Este dado colocava, na altura, Timor como um dos países mais pobres do mundo).

A nota dominante do passeio vai para a quantidade de animais que se vêem à beira da estrada e para o número de sorrisos e saudações que nos fazem...é seguramente o sítio com o maior número de cabras e de sorrisos por m2, que já conheci!

Fica ainda na memória auditiva, a saudação daquelas crianças que se apercebem tardiamente da
nossa passagem e que gritam, ainda assim, “Bom dia Málais”!!!


quarta-feira, outubro 19, 2005

NOKIA E POLYGON

8 de Outubro de 2005-10-09

Dia grande hoje! Comprei um telemóvel e uma bicicleta, marca POL Y GON (?)! É do melhor que se encontra por cá! É impressionante como estes dois objectos me fazem sentir mais feliz! O primeiro porque agora estou comunicável e o segundo porque uma bicicleta me dá uma sensação de liberdade incrível. Assim que saí da loja, fiz um grande passeio pelas ruas de Díli...parecia-me outra, a cidade!

Lá vou eu quebrar o protocolo...vou dispensar o transporte para a embaixada e passo a ir de bicicleta!

9 de Outubro de 2005-10-09

1º PASSEIO DE BIKE

Atrevi-me a experimentar subir um pouco da montanha (estas subidas são infindáveis...deixam a um canto a Serra da Arrábida...assim eu as consiga subir). Aqui tenho um contra intransponível! Chama-se temperatura elevada – logo às 7 da manhã – aliada à humidade. Subi durante 15 minutos; a bicicleta não se portou muito mal. Valeu pela paisagem. Vejam as fotos!











quarta-feira, outubro 12, 2005

5 de Outubro de 2005

PEIXE À PORTA

O sr. que vende peixe bate-nos à porta. Traz o peixe pendurado, aos molhos. Um molho em cada ponta de uma vara, que coloca sobre os ombros! Assim... quanto é, o peixe papagaio? 15 dólares (deve ter uns três kilos), mas pode ser menos, diz. Aceito aquele peixe por 15 dólares, mas também quero um atum. Como não tem troco de vinte, fico com mais um atum e ainda um outro peixe que, ainda não conheço. Feitas as contas, 4 grandes peixes (média 3 kilos cada), por 20 dólares. Espero não enjoar...talvez faça “caldeirada de peixe papagaio”, humm? Não soa mal ;)






















7 de Outubro de 2005-10-09

PORCO À PORTA

Ontem eu não sabia, quando comprei o peixe! Mas agora já sei... imaginem o cenário de ontem com o peixe, mas com agora com pequenos leitões!!! Sim ,leitões pendurados, dois em cada ponta da vara! Esta foi um bocadinho difícil de digerir... se tivesse sabido antes, talvez tivesse feito uma preparação mental... foi um choque para mim. Não esperem por uma foto, porque não fui capaz... talvez mais tarde.

Há uma diferença para mim quando olho para os animais que se passeam livremente pelas ruas de Díli...cabras, porcos, galos, galinhas, cães, gatos... para os timorenses não há! Todos estes animais tem o mesmo fim.

MIKROLET’S

É o transporte público em Timor-Leste. Não há paragens fixas, não têm hora de partida, nem de chegada. Circulam pela cidade. Deixam-nos onde quisermos....a nós... e a todos os outros... podem, então imaginar que um percurso de 10 minutos, dure cerca de uma hora!

segunda-feira, outubro 10, 2005




4 de Outubro de 2005-10-05

INAUGURAÇÃO DA ESCOLA PRIMÁRIA DE CAIRUI

CaiRui fica no Distrito de Manatuto, a Este do Distrito de Díli.

A recuperação desta escola insere-se num projecto dinamizado pelo Adido para a cooperação Engº José Manuel Revêz e pela assessora Portuguesa do Ministério da Educação e Cultura de Timor-Leste, Drª Rosa Menezes.
Esta escola foi reconstruída com a ajuda de 10 Câmaras Municipais Portuguesas a saber: Câmara Municipal da Golegã, Guarda, Idanha-a-nova, Manteigas, Montalegre, Oliveira do Hospital, Penamacor, Portimão, Tarouca e Vila Nova de Foz Côa. Sabem quanto custa reconstruir uma escola primária no interior deste país, num sítio recôndito, pobre, muito pobre? Cerca de 10 000 euros! Um bem haja a estas pessoas; quando se está no local, a dimensão de evento assume outras proporções, volta-se a acreditar! Soubéssemos nós o quanto se pode fazer pelos outros e às vezes com tão pouco!

A aldeia em peso, 1800 pessoas, reuniram-se para inaugurar uma escola!!! É dia de festa é um grande, grande evento! Fizeram-nos uma recepção calorosa. As crianças vestidas com trajes tradicionais, recebem-nos cantando o Hino nacional de Timor...cantam, dançam, recitam poesia, tudo está organizado ao pormenor.

Em frente à nova escola, fica um barracão, feito com canas, tecto de zinco, chão em terra batida...é assim a escola Pré-secundária e Secundária de CaiRui.

Olhar estas crianças, tão enaltecidas porque têm quatro paredes levantadas onde podem estudar, porque “o futuro de Timor está nas nossas mãos..." cantam-nos num português perfeito, é uma lição de vida!
Deixo-vos com algumas imagens.






























Esta é a escola Pré-secundária e Secundária de CaiRui.


3 de Outubro de 2005

A EMBAIXADA DE PORTUGAL EM DÍLI

Edifício bonito, fica mesmo ao lado do Palácio do Governador, vai ser o meu local de trabalho, enquanto não andar em visita aos Distritos.

Esta é a vista da varanda do primeiro andar. Eu trabalho no segundo.

quarta-feira, outubro 05, 2005

2 de Outubro de 2005

O MERCADO DE DÍLI


O meu primeiro Domingo em Díli!

Fez-me falta o meu passeio matinal de bicicleta :(
Aqui compra-se uma bicicleta com mudanças, mas bastante pesada por 90/100 dólares. Quando nos formos embora é fácil trocar-se no mercado por outras coisas! Cool!
Também há muita gente a correr na marginal... não tenho desculpas para chegar a Portugal fora de forma! J

À tarde fizemos, eu e o João um passeio, a pé, pela cidade! Os taxistas ficam baralhados connosco, passam por nós às dúzias e apitam, apitam...não estão habituados a ver “malaios” a andar a pé! Temos sempre de olhar e acenar com a mão a dizer que não queremos, senão não se vão embora! Quando andamos de táxi, temos de negociar o preço primeiro...se não o fizermos pedem-no três vezes mais..o preço para a maior parte dos sítios dentro da cidade é um dólar. Qualquer dia queremos um táxi e não nos ligam nenhuma! J

Andámos 3 horas e meia, descobrimos um mercado com legumes e fruta; estas pessoas descem as montanhas, todos os dias, para venderem os seus parcos produtos! Vi ervas, que nunca tinha visto! O nosso Tétum deficiente não nos ajudou nas explicações para os nomes de tantas ervas e para que serviriam. Para comer? Para fazer chá? E o que fazer com melancias do tamanho de bolas de ténis de mesa? (Não devem ser melancias...mas são exactamente iguais). E papaias do tamanho de melões? Uau! Que felicidade! Adoro papaia! Ora vejam lá as fotos!
















OS CÃES DE DÍLI

Um teórico do Urbanismo disse um dia que o grau de humanismo de uma cidade se vê pela forma como os pássaros frequentam os largos e as praças das cidades!

Olhar para os cães estranhos daqui, é perceber que tudo está intimamente relacionado, tudo resulta do grau de sociabilização e de interacção entre pessoas e destas para com os animais. Se para as pessoas a principal questão diária é a sobrevivência, também o é para os animais! Até aqui dá para perceber; o que eu nunca pensei ser tão incrivelmente visível, é a expressão, melhor a inexpressão dos cães! Não há nenhuma, nenhuma interacção entre homem e animal! Vivem em mundos paralelos! Estes cães são autênticos coiotes! Tentei fotografá-los mas não consegui bem a expressão de que vos falo! Consegui uma aproximação. Eles comportam-se como gatos selvagens! Acreditem que perceber através da expressão destes animais o quanto falta fazer neste país, é assustador!

terça-feira, outubro 04, 2005

1 de Outubro de 2005-10-02


PRAIA DA AREIA BRANCA/CRISTO REI...e pegadas de porco!

Estas são as praias de Díli! Pelo que me contam não são as melhores. Assim que chegamos fui logo experimentar as tais águas quentes...não gostei! A água é demasiado quente...por isso eu achei que não estava ninguém no banho (também estava, como é obvio sem óculos) e quando olho melhor, vejo muitas cabeças dentro de água...pareciam iguanas ao sol! o banho correu mal para dizer a verdade, ia pondo o pé em cima de uma grande estrela do mar...depois pensei, que talvez não fosse grave; deve estar morta! Não estava, nem esta nem as outras tantas que por ali estavam em 5 ou 6 metros quadrados....então o melhor é começar a nadar, Oh... não o que é isto que me toca na barriga??? Ok, confesso entrei um bocadinho em pânico (descansem ninguém me ouviu) desatei a nadar para Terra aos gritos! Assim que chego à areia, ainda meio atordoada e sem ver bem onde estão os colegas, alguém me grita! – Olha o porco, olha o porco!!! Porco? Que porco? Ahhh....vem na minha direcção! Ah ...seu grande porco! Um porco enorme, (preto) vem dar-me as boas-vindas, será?! Dá para acreditar. Já sabíamos que porcos, vacas, cabras....andam livremente pelas ruas de Díli, não sabíamos que os porcos (e as cabras) também iam à praia ;) Depois deste episódio voltei para a água com a máquina para registar a estória que vos conto. Foi por cima de um banco de algas, grandes e gordas que eu nadei.
À noite fui convidada para jantar na casa do Pedro, um português que alugou uma casa timorense, fez uns arranjos e agora tem uma casa fabulosa! Boa comida (peixe côco), vinho australiano, bom ambiente, gente muito simpática, interessante. .

Ora aqui está o porco de que vos falo!

30 de Setembro de 2005

ALCINO DA COSTA

Alcino da Costa (Costa, como o Rui Costa) diz-nos, é um dos meninos que vende nas ruas. O Alcino tem 15 anos e vende cigarros Marlboro! Tem o tal sorriso doce e o olhar sereno. Mesmo não nos tendo vendido os cigarros foi ficando por perto enquanto jantávamos. O seu jogo de sedução deu frutos e no fim do jantar já o Alcino estava na nossa mesa a beber uma Sprite, por nós oferecida, e a ensinar-nos Tétum. No final do jantar acabou por dizer ao que veio realmente: pedir-nos dinheiro. Perante a nossa recusa disse-nos ser para comprar um caderno, uma esferográfica e um lápis. Ficou prometida esta oferta. Sabem que mais? Logo de seguida o nosso amigo Alcino pediu-nos uma bola de futebol ! à resposta: talvez....daqui a uns tempos, o Alcino retorquiu : “quero também umas chuteiras” (!?)
Nota 20 em sobrevivência, Alcino!


30 de Setembro de 2005

DÍLI BY NIGHT

“Cool Spot” é o nome do bar/discoteca que conheci ontem. O ambiente era verdadeiramente cosmopolita! Timorenses, Indonésios, Portugueses (muitos), brasileiros, australianos, ingleses... Estranho outra vez! Enquanto observava estas pessoas, só pensava na tal cidade que eu tinha visto à tarde!
Mais um tópico, para integrarmos este bar no "cosmopolitismo"...um whiskie (muito mini) custa 4 dólares.... irra!







30 de Setembro de 2005-10-01

1º PASSEIO A PÉ PELA CIDADE

Fiz o percurso, a pé, desde a embaixada até ao bairro onde moro. Apesar de cá estarem muitos estrangeiros, àquela hora (por volta das 17 h), eu era a única estrangeira a percorrer uma avenida infindável. É difícil ficarmos indiferentes ao ambiente que nos rodeia. Senti-me verdadeiramente estrangeira, não no sentido comum em que usamos a palavra, mas no sentido de diferente; diferente porque afortunada, senti-me pouco confortável, porque me senti “bem vestida”, “bem alimentada”... nunca imaginei, um dia, viver um momento assim....nós que temos sempre de comprar mais qualquer coisa e que nos sentimos infelizes por não termos essa “qualquer coisa”.
As ruas estão esburacadas, fragmentadas, nos passeios encontramos buracos profundos (espero sempre vê-los a tempo de não cair, literalmente, lá dentro – têm cerca de 1 m2). São buracos a céu aberto, em baixo vêem-se as águas cinzentas e fedorentas dos esgotos. À noite é altamente desaconselhável passear a pé. A cidade não é iluminada. Andar pelas rua de Díli à noite, é o mesmo que estar num campo deserto, onde é tão escuro que se pode ver o céu estrelado.
As casas estão completamente degradadas, precisam de pintura de arranjos vários, podem ver-se buracos das balas nas paredes , um pouco por todo o sítio...é um ambiente desolador, triste....depois acontece o inesperado! No meio do nada, como por exemplo num terreno baldio , com crianças sujas, sentadas na terra, encontramos uma ouriversaria!!! Sim , impecavelmente cuidada e limpa! Mais à frente, o mundo da tecnologia, lojas com imensas aparelhagens, televisões, vídeos, DVD’S piratas. Por dois dólares posso comprar filmes recentes. “Closer”, por exemplo! Estranho isto! Ao passear na rua, posso cair directamente nos esgotos da cidade e se não cair no buraco, posso mais à frente comprar um DVD que não encontrei em Setúbal!!!
Este é o outro lado da “economia global”... todos conhecemos cidades onde há riqueza com as inevitáveis “bolsas de pobreza”; agora posso conhecer uma cidade pobre, muito pobre, onde ao virar da esquina encontro um DVD, que não encontrei no “mundo desenvolvido”.

30 de Setembro de 2005-10-01

NÓS JANTAMOS, VOCÊS ALMOÇAM

Esta coisa da Terra girar sobre si mesma e à volta do Sol, deixa de ser um conceito tão abstracto, quando aqui em Timor, nós vemos à hora do jantar, na televisão portuguesa, aquilo que vocês vêem à hora do almoço! Melhor: vemos em simultâneo o mesmo telejornal, vocês o da uma e nós às nove!







30 de Setembro de 2005

A ESCOLA PORTUGUESA E A EMBAIXADA

A escola portuguesa, onde os meninos aprendem português e em português, tem três pavilhões e os telhados em colmo.. Os alunos vestem farda e cada vez que passam por nós dizem de forma audível: “Bom Dia” , “Boa Tardii”; é engraçada esta pronúncia com cheiro do Alentejo. Parecem crianças felizes; no intervalo, pulam, gritam, brincam como todas as crianças. A cor da pele, a fisionomia, o sorriso e o seu ar sereno é o que os distingue dos demais. Os meninos de rua (e são muitos), esses não andam na escola portuguesa...

PRIMEIRO DIA EM DÍLI













29 de Setembro de 2005-10-01


Meus amigos, um só dia e tanta coisa para contar!
Na verdade, só metade do dia. Chegámos ao meio dia a Díli, depois de 20 horas de viagem...viajamos com o primeiro ministro no avião. Havia uma grande recepção à chegada, que não era obviamente para nós!
Aqui tudo parece pequeno e familiar. Quando saímos do avião o percurso até à rua dá-nos a sensação de que estamos a atravessar um qualquer quintal, ou uma rua de um bairro pobre. Não há luzes de néon, não há corredores infindáveis, não há lojas com produtos de marca, não há lojas... é assim o aeroporto de Díli.
O ar quente e húmido faz-se notar de imediato. Um olhar rápido pela paisagem, diz-nos que estamos muito, muito, longe de casa. Depois de seis meses sem chover, tudo está seco. A vegetação é escassa, as montanhas estão desnudadas, tudo está empoeirado. Tudo é diferente. As pessoas, os cheiros, a temperatura, as casas, o trânsito... as pessoas movem-se lentamente; são tão pequenos e magros que parecem acelerados nos seus afazeres. Vêem-se muito mais homens do que mulheres. Estão sentados em grupo, nos passeios, nos muros, conversando...e as mulheres? Onde estão? Provavelmente trabalhando. Tenho a triste sensação de aqui, como em África (como no resto do mundo) são elas os pilares do sustento. São elas que trabalham com engenho e arte, são elas que dirigem o barco.
Alguns olham para os malaios (somos nós, os estrangeiros) com um ar hospitaleiro, outros, com alguma reserva.
As crianças de rua são verdadeiramente como “bandos de pardais à solta”. Gravitam à nossa volta, pedindo e/ou vendendo pequenas coisas. São magras, ágeis e sedentas de dólares. A média de filhos por família é de 12/13/14 filhos! Em regra, estes meninos(as) só têm afecto enquanto não aprendem a andar; com 2, 3 anos já são cidadãos do mundo, em pleno: ou seja, circulam pelas ruas, sozinhos ou em grupo. Têm um ar cândido e um sorrido doce. Esta é uma imagem vulgar... a diferença é que aqui, podemos olhá-las nos olhos.
Ainda sob o efeito do “jet lag” são estas primeiras impressões. Que bom seria acordar amanhã e constatar que seria outra a realidade.
Entre os cooperantes parece haver gente com alma. Reina um ambiente acolhedor; imagino que este advém, muito da consciência da distância. Estamos longe!
O meu sentimento vai para uma boa integração, quer no trabalho que me é pedido, quer no conhecimento dos usos e costumes do povo timorense.

Nota: Hoje é dia 4 de Outubro e só hoje consegui ter acesso (com tempo ) à net, por isso só hoje coloco os "posts"! A foto que escolhi para iniciar este blog, foi tirada no Domingo. Até agora é a minha preferida!