terça-feira, dezembro 26, 2006

"TÃO GRANDE DOR"

É emoção o que sinto ao ler este poema...o que teria agora para nos dizer Sophia de Mello Breyner? Seguramente, nem Sophia, nem nenhum de nós vislumbrou o actual cenário...esta "Tão grande dor para um tão pequeno povo", tem agora contornos inimagináveis...é uma dor maior...que nasce das suas próprias entranhas.

Tão grande dor
Sophia de Mello Breyner Andresen"Tão grande dor para tão pequeno povo"

Timor fragilíssimo e distante
«Sândalo flor búfalo montanha
Cantos danças ritos
E a pureza dos gestos ancestrais»

Em frente ao pasmo atento das crianças
Assim contava o poeta Ruy Cinatti
Sentado no chão
Naquela noite em que voltara da viagem

Timor
Dever que não foi cumprido e que por isso dói
Depois vieram notícias desgarradas
Raras e confusas
Violência mortes crueldade
E ano após ano
Ia crescendo sempre a atrocidade
E dia a dia - espanto prodígio assombro -
Cresceu a valentia
Do povo e da guerrilha
Evanescente nas brumas da montanha

Timor cercado por um muro de silêncio
Mais pesado e mais espesso do que o muro
De Berlim que foi sempre tão falado
Porque não era um muro mas um cerco
Que por segundo cerco era cercado
O cerco da surdez dos consumistas
Tão cheios de jornais e de notícias

Mas como se fosse o milagre pedido
Pelo rio da prece ao som das balas
As imagens do massacre foram salvas
As imagens romperam os cercos do silêncio
Irromperam nos écrans e os surdos viram
A evidência nua das imagens

domingo, dezembro 24, 2006

FELIZ NATAL



A todos um Feliz Natal e um Bom Ano 2007!!!

Deixo-vos com um poema do "poeta militante".


Choro!

Choro!Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro

as crianças violadas
nos muros da noite
húmidos de carne lívida
onde as rosas se desgrenham
para os cabelos dos charcos.

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
diante desta mulher que ri
com um sol de soluços na boca
— no exílio dos Rumos Decepados.

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
este sequestro de ir buscar cadáveres
ao peso dos poços
— onde já nem sequer há lodo
para as estrelas descerem
arrependidas de céu.

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
a coragem do último sorriso
para o rosto bem-amado
naquela Noite dos Muros a erguerem-se nos olhos
com as mãos ainda à procura do eterno
na carne de despir,
suada de ilusão.

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
todas as humilhações das mulheres de joelhos nos tapetes da súplica
todos os vagabundos caídos ao luar onde o sol para atirar camélias
todas as prostitutas esbofeteadas pelos esqueleto de repente dos espelhos
todas as horas-da-morte nos casebres em que as aranhas tecem vestidos para o sopro do
silêncio
todas as crianças com cães batidos no crispar das bocas sujas
de miséria...

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro...

Mas não por mim, ouviram?
Eu não preciso de lágrimas!
Eu não quero lágrimas!

Levanto-me e proíbo as estrelas de fingir que choram por mim!

Deixem-me para aqui, seco,
senhor de insónias e de cardos,
neste ódio enternecido
de chorar em segredo pelos outros
à espera daquele Dia
em que o meu coração
estoire de amor a Terra
com as lágrimas públicas de pedra incendiada
a correrem-me nas faces
— num arrepio de Primavera
e de Catástrofe!

José Gomes Ferreira

domingo, dezembro 10, 2006

TALHO AO AR LIVRE

São cerca de 50, os metros que distam entre este “talho” e a porta principal do Hotel Timor!

Não vos conto o calor que se faz sentir logo pela manhã, nem das moscas que se concentram em torno destes “talhos” a céu aberto!!!

Uma práctica corrente por todo o país…estas imagens foram captadas, à beira da estrada a caminho de Viqueque…


MONTANHAS DE DÍLI



Num passeio pelas montanhas que rodeiam as praias da areia branca e a praia do Cristo Rei…
O Cristo Rei estava pronto para me receber…mas eu troquei-lhe as voltas!

No topo

Sepulturas!
Uma práctica ancestral…No topo da montanha os anciãos podem zelar melhor pelos que cá ficam…

Encontro com a história
Recuámos no tempo! Ao fascínio da descoberta das montanhas, junta-se o fascínio da História! Da nossa história! O que fazia ali no topo da montanha esta moeda de 1970?
Esperou até ao dia de hoje para que eu a descobrisse e dela vos desse conta?



Bebedouro para as cabras...
Reservatório de água para as cabras? Imagino que seja para aproveitar a água das chuvas…este é o seu habitat…para subirmos, seguimos precisamente o trilho das cabras! Se elas sobem..nós também subimos ;))
Sem palavras…

No regresso à praia, encontramos o Mariano – meu conhecido de outros passeios – a amanhar peixe e orgulhoso da sua t-shirt!

QUEM MORA AQUI?


Quem mora aqui? Vá lá! Puxem pela cabeça ;)