"TÃO GRANDE DOR"
É emoção o que sinto ao ler este poema...o que teria agora para nos dizer Sophia de Mello Breyner? Seguramente, nem Sophia, nem nenhum de nós vislumbrou o actual cenário...esta "Tão grande dor para um tão pequeno povo", tem agora contornos inimagináveis...é uma dor maior...que nasce das suas próprias entranhas.
Tão grande dor
Sophia de Mello Breyner Andresen"Tão grande dor para tão pequeno povo"
Timor fragilíssimo e distante
«Sândalo flor búfalo montanha
Cantos danças ritos
E a pureza dos gestos ancestrais»
Em frente ao pasmo atento das crianças
Assim contava o poeta Ruy Cinatti
Sentado no chão
Naquela noite em que voltara da viagem
Timor
Dever que não foi cumprido e que por isso dói
Depois vieram notícias desgarradas
Raras e confusas
Violência mortes crueldade
E ano após ano
Ia crescendo sempre a atrocidade
E dia a dia - espanto prodígio assombro -
Cresceu a valentia
Do povo e da guerrilha
Evanescente nas brumas da montanha
Timor cercado por um muro de silêncio
Mais pesado e mais espesso do que o muro
De Berlim que foi sempre tão falado
Porque não era um muro mas um cerco
Que por segundo cerco era cercado
O cerco da surdez dos consumistas
Tão cheios de jornais e de notícias
Mas como se fosse o milagre pedido
Pelo rio da prece ao som das balas
As imagens do massacre foram salvas
As imagens romperam os cercos do silêncio
Irromperam nos écrans e os surdos viram
A evidência nua das imagens