terça-feira, março 28, 2006

FEIRA DO LIVRO EM BAUCAU


Fica o registo de grande satisfação pelo sucesso do evento. Houve música, dança, estórias. Os mais pequenos pintaram, desenharam…foi vê-los soltar a imaginação. Fica a vontade de fazer mais, de fazer ainda melhor. Que bom seria termos mais livros! Só quem vê, pode perceber, a dimensão da procura, do significado que o livro tem, para estas pessoas. Vi meninos e meninas agarrados a dicionários de Tétum-Português, sem terem dinheiro para os pagarem. A Irmã Rosalina, fala-me da emoção que sente, ao ver esta sede de livros. Fala-me da importância deste evento. Por ser o 1º em Baucau. Por ser o 1º depois de tantos anos em que não se podia falar a Língua Portuguesa…
Fica o registo do sucesso; ficam outros registos, como o dos meninos a quem ofereci livros e que os venderam no exterior. Poderei julgá-los?

domingo, março 12, 2006

"OS FILHOS DA NAÇÃO"

"Os filhos da nação" é o título do artigo publicado na Revista do jornal "Expresso" de 25 de Fevereiro, edição nº 1739, da jornalista Cândida Pinto, sobre Timor Leste.

Os meninos a quem comprei sapatos, pelo Natal foram fotografados. A legenda da foto diz: " Desconhecem a existência da Internet, quanto muito sabem o que é um computador. É, de facto uma outra realidade aquela em que vivem as crianças timorenses".

sábado, março 11, 2006

ACONTECEU POR AQUI

O trabalho acumulado juntamente com uma série de eventos, não me deixaram muito tempo livre para “blogar”, o que não deixa de ser irónico, já que o blog deveria servir para vos dar conta do que aqui se passa…passou por cá o Presidente Jorge Sampaio, já fez 5 meses que aqui estou, tivemos um ciclone à porta, houve desfile no Carnaval…e nada de notícias no blog!

Como o que já passou não é notícia, deixo-vos apenas, alguns apontamentos destes acontecimentos. Deixo-vos também o compromisso assumido, de me obrigar a “postar” pelo menos uma vez por semana.

Presidente Jorge Sampaio visita a Escola Portuguesa de Díli e Gleno


A visita do Presidente correu bem. Na Escola Portuguesa de Díli, foi muito engraçado, ver todos os alunos e alunas responderem um uníssono ao Presidente. Cada observação de Jorge Sampaio, tinha uma resposta, em coro, do outro lado…esteve difícil o começo! O Presidente teve de pedir “deixem-me lá agora dizer umas coisinhas…”.

Outro momento, foi assistir à condecoração do engenheiro Revez, com a “Comenda de Ordem de Mérito”, pelo trabalho desenvolvido, como Adido para a Cooperação, aqui em Timor-Leste.

Estive na visita do Presidente a uma escola do interior, em Gleno. Foi grande a carga emocional que Jorge Sampaio colocou no seu discurso. Terá sido este, um dos últimos discursos, enquanto Presidente da República Portuguesa. Foi a sua primeira visita ao interior; disse ter descoberto um outro “Timor”! O das montanhas e dos acessos difíceis…disse ter sido interessante poder constatar, como este aspecto foi crucial, na resistência que os timorenses ofereceram aos Indonésios. Elogiou o trabalho dos nossos professores. Entregou o certificado de conclusão, de um nossos cursos às três melhores alunas.

Carnaval em Díli


Os alunos e alunas da Escola Portuguesa de Díli saíram para a rua mascarados. Já conseguiram contagiar outras escolas! Foi vê-los disfarçados de piratas, de guerreiros, de palhaços e desfilar pelas ruas de Díli, dançando e cantando!

Ciclone tropical

Tivemos na iminência de sermos visitados por um ciclone. A parte SE da ilha, ainda registou alguns indícios, mas felizmente o dito mudou de trajectória. Deste já nos livramos! A probabilidade de sermos alvo de um ciclone é assustadora, especialmente quando sabemos que a fragilidade das construções deste país é muito grande e que um ciclone, mesmo de baixa intensidade, será uma verdadeira catástrofe, deixando seguramente um enorme rasto de destruição.

Cinco meses em Timor Leste

Tempo suficiente para passar da fase de deslumbramento para uma outra que ainda não sei qual é. Como na canção: " A Terra gira ao contrário e os rios nascem no mar..." hoje quis acreditar que podia ser esta a linha do horizonte.


Os meninos da Mana Lu despedem-se do engenheiro Revez

A casa da Mana Lu, acolhe todas as pessoas, todos os meninos e meninas que se encontram em situações de precaridade.
Gente doente, com tuberculose, lepra, malária… tem aqui acolhimento gratuito.
Gente que aqui, como aí, se viu, vê, sozinha no mundo, tem aqui acolhimento.
Foram estas pessoas, estes meninos e meninas, que quiseram também eles, dizer adeus ao "Maun" Revez! Recitaram poesia, cantaram e dançaram! O "Maun" Revez ficou emocionado! Todos ficamos emocionados! Quanta verdade pude ver nos olhos destas crianças!

Cada um com a sua estória. Cada estória tão diferente e tão igual.

A Mana Lu, que a todos conhece, apresentou-me os três meninos com quem falava: “O Adêncio chegou aqui com uma infecção pulmonar, mas agora já está bom. A Augusta teve malária; a Azuli, foi-me enviada pelo Hospital. Não tem família. Quando aqui chegou, nem falava”. Foi assim, com uma voz doce e afectuosa, mas uma forma rápida, de quem não tem tempo a perder, que me apresentou estas crianças. Que mais saberão elas, que nós nunca saberemos? A Azuli, tem uns olhos grandes que sobressaem num rosto onde existe uma expressão de desafio, que me desconcerta. A menina com nome de cor: Azuli


Captei este momento. Intrigou-me a expressão deste homem e o cuidados que tinha com a bébé. Soube depois, que a mãe a abandonou exactamente nesse dia.


Partiu o “Maun” Revez

Um ciclo que se fecha. Seguramente outro surgirá.
Lembro-me bem da forma como me recebeu, no dia em que cheguei.
Uma cidade ainda com as balas cravadas nas entranhas… casas com indícios visíveis dos incêndios, as ruas esburacadas, os porcos nas ruas, uma vista desoladora para quem chega de novo…e o engenheiro Revez, apresentava-me a cidade de forma peculiar; com um toque de humor, talvez para o choque não ser tão grande! Aqui é o “IC 19”, no centro temos a “Rua Augusta”; a rua das embaixadas e a embaixada da Austrália, protegida até aos dentes… no carro ouvia-se música portuguesa! E foi assim, ao som de “Por este rio acima” do Fausto, tão longe do meu mundo, que fui tomando contacto visual com esta cidade, onde, por não existirem pontos de referência, se demora algum tempo até nos conseguirmos orientar, que me senti bem, neste novo mundo.

Senti-me bem vinda, e percebi, naquele dia, que tinha ganho um amigo em Timor! Por isso continuarei o meu caminho aqui. “Os caminhos fazem-se caminhando” Lembra-se? Enquanto não regressa, viverei também por si “a magia de Timor”!

Obrigada engenheiro!