terça-feira, maio 23, 2006

AS CONCHAS DE TIMOR-LESTE

Coloco este "post" e penso nas palavras de Fernando Pessoa (Tabacaria): "Come chocolates pequena; Come chocolates; Olha que não há mais metafísica no mundo, senão chocolates"... hoje é mais um dia tenso. Continuam a registar-se alguns distúrbios...mas não me apetece falar "da situação", falemos de qualquer coisa agradável, como as conchas e Timor-Leste...pois não há mais metafísica no mundo, do que a beleza destas conchas! São um fascínio para mim, pela diversidade de padrões e de formas, tamanho e de cor...elas estão ali, inertes...como se estivessem à espera de serem descobertas para finalmente nos contarem os seus segredos de milhões de anos!

Como as encontramos na praia,

Perfeição,
As conchas da casa,As minhas conchas,

O primeiro pedaço de coral que encontrei, na primeira vez que fui à praia,Um pormenor de coral.

segunda-feira, maio 22, 2006

20 DE MAIO DE 2002 - 4 ANOS DE INDEPENDÊNCIA

O último dia do Congresso da FRETILN coincidiu com o dia da comemoração da Independência de Timor-Leste.
Mari Alkatiri foi reeleito Secretário -Geral , pela maioria dos delegados presentes, através de uma votação de braço no ar -550 votos a favor, 11 abstenções e 5 contra.
O método de eleição provocou a desistência do único candidato opositor, José Luís Guterres, por este considerar o método de eleição escolhido “típico de partidos leninistas dos tempos antigos”.
Ora, se por um lado a opção política de cada cidadão deve ser feita em consciência, (logo votar de braço no ar ou de forma secreta, não deveria fazer diferença), por outro, o de facto de nunca podermos saber se teria sido outro o resultado, usando o voto secreto, é uma realidade. Não será preciso lembrar a falta de tradição democrática (por razões obvias), e todo um conjunto de aspectos característicos de um país pobre e pequeno, onde a informação que passa de boca em boca tem mais credibilidade do que aquela que é proferida pelos homens do poder, até porque a forma como a primeira é veiculada é de muito mais fácil compreensão do que a segunda. Ouço os políticos e ouço as pessoas na rua e questiono-me muitas vezes, que informação chega aos ouvidos destas pessoas e como será assimilada aquela que é retida. Por isso me questiono: se tivesse sido outro o método, seria o resultado o mesmo?
Seja como for, o certo é que se toda a agitação que se viveu neste país, em vésperas da realização do Congresso, tinha como alvo (também), destabilizar o governo, 5 votos contra, são muito pouco representativos desta tentativa de destabilização…
Certo, certo é que hoje, dia 22 de Maio, 2 dias depois do Congresso continua a registar-se em Díli alguma alteração da ordem pública, tendo-se verificado alguns confrontos, em alguns pontos da cidade – o suficiente para a apreensão se instalar outra vez no rosto de cada timorense.

sábado, maio 13, 2006

CONTRA-INFORMAÇÃO?

Questiono-me quanto tempo terei desperdiçado ao longo da minha vida lendo os jornais. Quanta da informação que li não era verdadeira?
Vem isto a propósito do seguinte. Imaginem o cenário. Estou, na companhia dos restantes colegas a trabalhar no gabinete. Há um grupo de professores, que por razões várias ainda não regressou aos distritos. Estão concentrados e empenhados em finalizar uma série de tarefas. Surge a notícia: Em Portugal, estão todos em alvoroço! A FRENPROF – sim, a FRENPROF, divulgou a informação de que “ os professores estariam com medo e a pensar sair de Timor-Leste”! O jornalista da RTP, Pedro Valador, (a quem aproveito para dar os Parabéns, pelo trabalho sério e competente que aqui desenvolve) telefona-nos para se inteirar do que se passa. Às 7 horas da manhã, hora de Portugal, (15 horas para nós) todos pudemos ouvir, em directo, um relato completamente verídico do que aqui se passa! Mais, no vosso telejornal de 13 horas (21 horas aqui) todos puderam ver os professores, e ouvir a sua opinião. Mas, pasmem-se, depois de tudo isto, a FRENPROF continuou a dizer exactamente o mesmo!!! Não me atrevo, sequer a inventariar hipóteses de explicação para o sucedido! Pois, se qualquer jornalista que se preze, deve, não só confiar nas fontes, como cruzar a informação que obtém, como é suposto ouvir também as outras notícias que vão surgindo!
Meus amigos, que diferença faz, ler uma notícia que vem de longe ou estar no centro dos acontecimentos. Já suspeitava disto, em teoria. Nunca pensei como, na prática, pudesse ser tão diferente.

segunda-feira, maio 08, 2006

MANISFESTAÇÃO PELA PAZ

Estas pessoas saíram para a rua, no passado Domingo, para dizerem ao mundo que são todos timorenses, só timorenses… e que são pela Paz, pelo Desenvolvimento e pela Democracia. Emoção, foi o que senti ao ver este desfile. Emoção pelo gesto, pela consciência cívica e democrática e pela coragem de saírem para a rua. Aqui, parece não haver meio-termo. Sei de amigos que o foram desde a infância até este momento… agora não se falam, porque um é “Loro Sa’e”(nasceu na parte este do país ) e o outro é “Loro Monu” (nasceu na parte Oeste). Dá para acreditar? É assim…




sábado, maio 06, 2006

OS PORTUGUESES FICAM!

Os cidadãos americanos considerados “não essenciais” e respectivas famílias foram autorizados a deixar o país. Disponibilizaram aos cidadãos portugueses, 60 lugares num avião com partida marcada para dia 5, …nenhum português se inscreveu!

Que sinal teremos dado? Somos todos casmurros? Destemidos? “Essenciais”? ou todos tivemos (temos) a capacidade de fazer uma leitura consciente da situação? Inclino-me mais para aqui…esperando não nos tenhamos enganado, já que as tensões continuam e o quotidiano deste país é feito de acidentes, incidentes, petições, pedidos de demissão, boatos…

sexta-feira, maio 05, 2006

MANIFESTAÇÃO DOS MILITARES PETICIONÁRIOS

Pouco posso acrescentar às notícias que passam em Portugal sobre a situaçao que aqui se vive. Posso talvez, falar-vos do sentimento de medo que invade os timorenses perante a iminência de um conflito. Com excepção dos mais pequenos, toda a população tem uma memória colectiva de pânico, dor, perda. Em cada família existe um trauma, um drama, uma ou mais perdas! Todos têm uma história para contar e são muitas as histórias.
Não sabemos nós, como nos fica gravado na memória, a perda de um familiar, um episódio de má memória? Agora pensam no que terá sido uma vida subjugada a torturas, pressões, perseguições, mortes, atrocidades, um, dois, cinco, dez, vinte e tal anos… fugir para as montanhas é a solução. Compreende-se. Se, de todas as vezes que se refugiaram, se salvaram, então, fugir para as montanhas é solução. Díli está semi-deserta. O comércio fechou. A grande maioria dos alunos não compareceu às aulas. As escolas fecharam. Nós, Malais, somos apanhados no meio deste pânico que se gerou; ficamos divididos, entre tentar perceber até que ponto há, ou não, razão para tanto pânico, o que saberão eles intuitivamente que nós não sabemos, qual a verdadeira dimensão da gravidade da situação.

Estas fotografias foram tiradas, da varanda do primeiro andar da Embaixada de Portugal, no primeiro dia da manifestação. Estava longe de imaginar, que alguns destes jovens militares, iam por aqui passar, enfurecidos, três dias depois e iam partir vidros e incendiar automóveis. Estava longe de saber que ia assistir a imagens de timorenses a correr pelas ruas, fugindo da confusão, dos tiros, do gás lacrimogéneo, com o pânico estampado no rosto. Estava longe de imaginar que um dia, eu, ia estar aqui, no país com o cemitério mais conhecido do mundo, pelas razões mais tristes e que iria assistir outra vez a imagens parecidas…só que estava longe, muito longe de imaginar, que volvidos tantos anos, a razão do pânico estampado nestes rostos, tem a ver com o seu irmão timorense… porque é “Lorosa’e” e não é “Loromunu” ou porque é “Loromunu” e não é “Lorosa’e”…


Em frente do Palácio do Governo
À entrada na rua que separa O Palácio do Governo da Embaixada de Portugal.





Três dias depois a passagem por aqui, não foi tão pacífica...