terça-feira, janeiro 17, 2006

DOIS MUNDOS NO FIM DE UMA RUA


Num passeio matinal, na minha bicicleta, deparei-me com este quadro: No fim de uma rua, num bairro em Díli, ao meu lado direito, esta casa:







Do meu lado esquerdo, esta:



Se este é um país em (re)construção, a primeira ideia seria que esta imagem de constraste, resultaria deste período – primeiro a casa da direita, depois a da esquerda. Mas não! A estória da casa da direita soube-a mais tarde! ( não falei com ninguém, porque portas e janelas estavam fechadas; abertura para o exterior, relações de vizinhança não são conducentes com o meio envolvente). Na casa do lado esquerdo, havia vida, estavam crianças brincando no “pátio” da casa. Pude trocar impressões com vários elementos da família. Vivem nesta “casa” que não é sua, e para a qual já tem uma data para a abandonar! Ninguém desta numerosa família, trabalha! Unidade fabril, operário, emprego...é uma terminologia que percente às sociedades pós-industriais. A “industrialização” ainda não passou por aqui!... nem a “Revolução Agrícola” passou por aqui!

JORNAL DE LETRAS FALA DE TIMOR-LESTE

Sensação estranha.
Pego no jornal JL (nº 919, de 21 de Dezembro a 3 de Janeiro) e leio artigos sobre Timor-Leste: Uma longa entrevista com o Professor José Mattoso (que viveu cá no Bairro), a escritora Alice Vieira, a Inauguração do Museu de Resistência Timorense….estranho porque em Portugal, eu estaria a ler acontecimentos distantes…lá em Timor-Leste! Agora, sinto-me por dentro do que lá se diz, das personagens que lá se falam, dos acontecimentos que lá são referidos!
Recebemos aqui o “JL”, com cerca de uma semana de atraso, mas recebemos!
Estive na sessão de lançamento do livro do professor José Mattoso: “A Dignidade-Konis Santana e a Resistência Timorense”, onde de facto o número de exemplares recebidos, ficou muito aquém da procura. Três meses e meio em Timor-Leste, não é muito tempo, mas é o tempo suficiente para me identificar com o que o Professor Mattoso escreve, quando fala do povo timorense.
Vale a pena lerem também, o testemunho da escritora Alice Vieira, levou Timor-Leste no coração e promete voltar! Pena a atribulação da viagem...episódio que nós aqui de Díli fomos acompanhando… e também esperando! A maior surpresa para a Alice Vieira, foi não ver pedintes nas ruas, não ver crianças pedintes….ou melhor: Viu! Mas pediam lápis! Lembram-se da estória do menino que me pediu sapatos, na véspera de Natal?

terça-feira, janeiro 03, 2006

OS TÁXIS DE DÍLI

Qual cão a abanar a cabeça? Qual naperon? Qual almofada? Qual bandeirinha envergonhada do Benfica, do Sporting ou do Porto? Qual t-shirt enfiada no encosto do banco dianteiro?
ou... moda nova, qual colete reflector, também nas costas do banco dianteiro? (É preciso trazer no automóvel, mas... pode ser debaixo do banco?)

- Já agora, um pensamento secreto: Eu acredito que um dia, por pura distracção, alguém vai descobrir a solução para a nossa crise económica! assim...tipo "por acidente" ou "foi sem querer"! Alguém do governo é mal interpretado pelo cidadão comum, ou...é interpretado de forma enviesada - nós somos peritos em encontrar os caminhos mais curtos. Uma piscadela de olho e um conselho na ponta da língua fazem de nós uns "experts" em qualquer matéria – basta que alguém comece com um determinado comportamento – Kitsch, visível, de encher o olho ao cidadão comum, tipo New (old) fashion!
Com estes ingredientes, a moda pega! Não pegou a moda do Scolari?
Scolari pediu bandeiras! Nós correspondemos ao pedido e enchemo-nos de orgulho! Orgulho Nacional! Perdemos o pudor de nos assumirmos como PORTUGUESES!!! (muitas das bandeiras foram feitas na China e compradas aos chineses, a muitas delas faltavam as Quinas, mas chinesices à parte, isso que importa? tinha o vermelho e o verde, não tinha?)

Bom... então e o código da estrada?
A multa se não se trouxer o colete é pesada... por isso os portugueses colocaram o colete bem visível!
Pergunto-me: as multas não são suficientemente pesadas para outras infracções? Qual é o preço de uma vida? 1/2 litro de vinho? 1 litro? 2 dúzias de cervejas? 4 dúzias?

E que tal encontrarmos um "fait-divers" para estas multas? assim... qualquer coisa visível! Não sei... umas bandeirinhas giras, a colocar fora das janelas, uma t-shirt a enfiar no encosto com uma mensagem? O que é preciso é que a moda pegue! Já estou a imaginar milhares de portugueses - os que bebem e os que não bebem - a aderirem à causa... e lá vamos nós todos orgulhosos de bandeirinha fora da janela, a mostrar a todo o mundo - de peito aberto - eu não bebo ! Eu não sou um assassino das estradas!... mas lá está! claro que alguns desses portugueses, "orgulhosos a mostrar a bandeira" são daqueles que bebem litradas... há sempre aqueles que vão enganar com "engenho e arte" os polícias... mas nada a fazer! Está nos nossos genes. Somos uns criativos....uns "Chicos-espertos"!

Chicos-espertos, são aqueles tipos, de peito aberto, transbordam confiança que até irrita, uns gabarolas, junto deles a vida é fácil, não há obstáculos....tudo é transponível, conhecem sempre o tipo certo, para a resolução certa... e barato! Até estou a imaginar um slogan nacional:

"Chicos - espertos ao poder! tudo mudaria de forma tão enviesada e dissimulada e você não daria por nada"

Ah... desculpem-me as divagações! Tudo isto porque vos queria falar dos táxis de Díli!
Em Díli (quase 200 000 habitantes) o trânsito é caótico! as regras são para cumprir... mais ou menos... a velocidade a que se deslocam é tão baixa que nos cruzamentos... a prioridade é assim... mais ou menos... é "mais" para os que lentamente chegaram primeiro àquele ponto sem retorno, então avança primeiro; o "menos", mesmo que tivesse prioridade deixa o outro passar calmamente e... calmamente avança! Há muitos jovens a conduzir táxis, mas independentemente da idade todos circulam a uma velocidade média de 20 kms à hora!... (em Díli não há seguradoras, convém andar devagar). Independentemente da idade, todos gostam de decorar o seu táxi com adereços! Podemos encontrar de tudo! Desde grandes almofadas no óculo traseiro, até corações de plástico pendurados à entrada - (em regra bato lá com a cabeça) - símbolos religiosos, símbolos desportivos... Benfica, Sporting, Porto, AC Milan... enfim! é uma questão estética perfeitamente assumida! É cultural! Táxi sem estes adereços... não é táxi que se preze...




domingo, janeiro 01, 2006

RUAS DE DÍLI NO 1º DIA DE 2006

As ruas de Díli no 1º dia de 2006
Penso muitas vezes, no que se transformará, este país, esta cidade...
penso no que irei encontrar se aqui voltar daqui a 10, 15 anos! e é tão claro para mim o papel que os governantes, mas também a cada um dos timorenses com quem me cruzo, tem na transformação deste país!
Penso nisto e penso também no meu país.

As duas primeiras fotografias são da rua Nicolau Lobato - a rua onde se localiza a embaixada de Portugal e as outras duas da "Marginal" - sempre que lá passo ao princípio da manhã, ou em fim de tarde, como hoje, é sempre esta a imagem: gente sentada no muro...só sentada!